sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Começou assim... Aventuras de cozinha (parte I)

Muitos dos que me conhecem sabem ou acham que sabem que sei cozinhar e presumem que gosto.
Para contar tudo em pormenor, tenho que voltar atrás nos anos e reinstalar-me na minha meninice. Olhando para trás, revejo a menina que fui, na cozinha da minha mãe. Nem era bonita, nem feia, aquela cozinha…era aconchegante, e durante anos a fio, fiz os meus trabalhos de casa, sentada à mesa de fórmica. Era o local mais quente da casa, nela presidia um imponente fogão a lenha, daqueles que ronronam e marcam presença. Havia sempre uma chaleira, com água quente no canto desse fogão, e ainda hoje não sei porquê.
Muitos supõem que a minha mãe seria exímia cozinheira e que me terá passado o gosto e alguns segredos. Que se desenganem, pois a minha mãe cozinhava para alimentar uma filha, um pai e ela própria, cozinha simples e trivial. A minha mãe não foi daquelas que ficam em casa, fez parte de uma geração fabriqueira e não tinha tempo para grandes reflexões gastronómicas.
Quartas-feiras, dias sem escola, sozinha em casa. Um mundo escondido por detrás daqueles armários, dentro de gavetas. Panelas rutilantes e o FOGÃO ronronante…
Tudo começou quando me apercebi que não poderia contar com ninguém nas aventuras das quartas, na cozinha. O meu pai, um dia que lhe pedi para deixar a massa, já na medida certa para eu cozinhar, deixou-a de molho e claro que, na hora de a cozer, já só encontrei uma papa pastosa…Outro aspecto decisivo, foi o único prato detestável a que o meu pai me votava todas as Quartas, o seu célebre arroz de bacalhau…não como arroz de bacalhau desde então…
O meu pai foi o meu primeiro fã e aquelas Quartas tornaram-se num desafio inventivo, na questão de meu pai –“ Hoje há comida de livro?”. Ora, comida de livro não era, mas se o meu pai dizia que era digna de livro, então tinha que ser cada vez mais surpreendente, no aspecto e no paladar. Começou com um peixe assado no forno em crosta de massa, moldada em formato de peixe. Foi tão rasgado o elogio e o sorriso, que ainda hoje me comove, e o meu pai continua a ser o meu fã número um.
Rapidamente vieram as aventuras no mundo dos bolos e sobremesas, e não me lembro por mais que tente lembrar-me, de nenhum bolo de aniversário que eu não tenha feito…

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