terça-feira, 28 de setembro de 2010

Também estou a pensar ir...

Vou-me embora para Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora para Pasárgada

Vou-me embora para Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau de sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe d' água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora para Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilzação
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mais triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
-Lá sou amigo do rei-
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Manuel Bandeira

Por vezes tenho a mania de oferecer poemas a quem amo. Este tenho-o guardado dentro de mim e é meu, para mim...neste momento, é para lá que quero ir. Não deve ser deste mundo este país, cada um de nós tem PASÁRGADA dentro de si.
É para lá que vou comprar bilhete, num voo que tem retorno marcado...na hora a que todos nós somos chamados à realidade. Pasárgada, não é um destino, é uma viajem para uma ilha, que faz com que todos os homens e mulheres sejam ilhéus dentro de si, desconhecido dos outros...
por mais que eu os ame.

sábado, 25 de setembro de 2010

Aos Donos da Verdade...que andam por aí


Insuporto supostas verdades de quem acha que sabe tudo e quer impor a sua visão toldada do mundo, num estrabismo abismal e mental.
Afasto-me de pessoas que cospem o que têm para dizer, apenas para aliviar as suas consciências, frustrações e os maus fígados.Entre essa agressividade e um bom soco no estômago, não há grande diferença, é violência pura, descarregada em torrente.
Agem a coberto de uma sinceridade que nunca aplicaram a si próprias, porque se acham perfeitas ou a caminho da perfeição. Que olhem para o espelho e digam se gostam do seu próprio reflexo e da alma que aí se reflecte. Duvido muito que gostassem dessa imagem reflectida e aconselho modestamente, que evitem fazê-lo, porque pode ser fatal para a sua suprema supremacia.
São melhores que os outros? Sabem SER mais? Parabéns! Não quero a receita, obrigada! Já disse que não quero! Não há paciência! Ninguém lhes encomendou o sermão! Ninguém queria saber o que pensavam!...mas insistem...
Que apliquem a si próprias estas terapêuticas de choque.
Quem quer saber o que não gostam nos outros?...eu não!
Que sejam moralistas nas suas próprias casas e altruístas consigo próprias.
Eu gosto de poder dizer o que gosto nas pessoas, fazê-las brilhar, construir e esperar.
Será que algumas delas se tinham apercebido de que como são maravilhosas e importantes?Têm defeitos? Pois têm…e daí?
Quem eu admiro? Os Amigos desses Donos da Verdade,porque esses sim, devem ser perfeitos para continuar a serem seus amigos...

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Começou assim... Aventuras de cozinha (parte I)

Muitos dos que me conhecem sabem ou acham que sabem que sei cozinhar e presumem que gosto.
Para contar tudo em pormenor, tenho que voltar atrás nos anos e reinstalar-me na minha meninice. Olhando para trás, revejo a menina que fui, na cozinha da minha mãe. Nem era bonita, nem feia, aquela cozinha…era aconchegante, e durante anos a fio, fiz os meus trabalhos de casa, sentada à mesa de fórmica. Era o local mais quente da casa, nela presidia um imponente fogão a lenha, daqueles que ronronam e marcam presença. Havia sempre uma chaleira, com água quente no canto desse fogão, e ainda hoje não sei porquê.
Muitos supõem que a minha mãe seria exímia cozinheira e que me terá passado o gosto e alguns segredos. Que se desenganem, pois a minha mãe cozinhava para alimentar uma filha, um pai e ela própria, cozinha simples e trivial. A minha mãe não foi daquelas que ficam em casa, fez parte de uma geração fabriqueira e não tinha tempo para grandes reflexões gastronómicas.
Quartas-feiras, dias sem escola, sozinha em casa. Um mundo escondido por detrás daqueles armários, dentro de gavetas. Panelas rutilantes e o FOGÃO ronronante…
Tudo começou quando me apercebi que não poderia contar com ninguém nas aventuras das quartas, na cozinha. O meu pai, um dia que lhe pedi para deixar a massa, já na medida certa para eu cozinhar, deixou-a de molho e claro que, na hora de a cozer, já só encontrei uma papa pastosa…Outro aspecto decisivo, foi o único prato detestável a que o meu pai me votava todas as Quartas, o seu célebre arroz de bacalhau…não como arroz de bacalhau desde então…
O meu pai foi o meu primeiro fã e aquelas Quartas tornaram-se num desafio inventivo, na questão de meu pai –“ Hoje há comida de livro?”. Ora, comida de livro não era, mas se o meu pai dizia que era digna de livro, então tinha que ser cada vez mais surpreendente, no aspecto e no paladar. Começou com um peixe assado no forno em crosta de massa, moldada em formato de peixe. Foi tão rasgado o elogio e o sorriso, que ainda hoje me comove, e o meu pai continua a ser o meu fã número um.
Rapidamente vieram as aventuras no mundo dos bolos e sobremesas, e não me lembro por mais que tente lembrar-me, de nenhum bolo de aniversário que eu não tenha feito…

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Rendez-vous comigo?



Há dias em que anseio por um encontro comigo própria.  Dias em que preciso encontrar-me, de forma lúcida e sem artifícios. São momentos em que me volto para dentro e não estou para ninguém. Esses momentos em que me questiono, são verdadeiramente dolorosos por vezes, porque não há margem para falsificar ou para enganar, neste tête-à-tête.
Dolorosos,  por não me encontrar como gostaria de ser ou por não poder sempre fazer um balanço positivo do que sou, do que trago aos outros ou mesmo ao mundo. É um encontro sem auto-comiseração e sem margem para mentiras ou ilusões.
Nesses dias faço as malas para uma vilegiatura interior, com escalas pelos momentos que considero fulcrais no meu caminho de crescer. Reencontro pessoas que cruzaram os meus rumos e de forma positiva ou negativa, me construíram como sou. Por vezes faço contas e ajusto contas.
Questiono-me muitas vezes sobre  felicidade,  o que faço para contribuir para a felicidade dos outros.  Com questões assim, raramente encontro respostas e, muitas vezes, admito que não as quero. O processo é que é importante. É claro que, como toda a gente tenho dias ou momentos felizes e outros menos…não é por aí, é mais uma questão de essência de mim.
São refúgios interiores, à busca de um equilíbrio. Ser funâmbulo entre o sonho e a realidade necessita destes lampejos de verdade interior. Saio deles inquieta, preocupada, mas sempre com um querer positivo que me ajuda a avançar. A resiliência é uma qualidade que aprecio em mim. É bater com os pés no fundo d piscina, para melhor subir à superfície, aspirar rapidamente um gole de ar fresco e continuar. Por vezes até tomo resoluções, que sigo ou não…

domingo, 19 de setembro de 2010

Castigo...pela gula

Pois é...lembram-se do fim trágico da meia tablete de chocolate? Pois agora daria o meu reino, por apenas um quadrado, e não há! É assim o castigo de quem não pensa no chocolate nosso de cada dia.
Não vou saír para comprar, mas enfim... bem que me apetecia.

sábado, 18 de setembro de 2010

O poder do sonho e dos desejos.

‎"O que mais me doi na miséria é a ignorância que ela tem de si mesma. Confrontados com a ausência de tudo, os homens abstêm-se do sonho, desarmando-se do sonho de serem outros.
Existe no nada essa ilusão de plenitude que faz parar a vida e anoitecer as vozes."
Mia Couto

   A miséria pior que se possa imaginar, é a que prega definitivamente ao chão e nos deixa a chafurdar na lama,  aquela que cala, impede o Homem de se elevar e de se realizar na sua plenitude...
Sonhar e desejar são de facto uma riqueza inestimável. Somos ricos dos nossos desejos e sonhos.
   Essa riqueza só é possivel quando vemos preenchidas as nossa necessidades básicas de alimentação, paz e segurança, conforto, amor e saúde. Como sonhar, se não há pão? Como sonhar, quando se deve lutar e sobreviver? Como sonhar, se não se sabe onde se vai dormir e se tem frio? Como sonhar, se se está só ou doente?...O que se pode desejar?

   Andei às voltas com um texto que me deixou de cabeça às avessa ... virtualmente, fiquei plantada, em cima de uma cadeira, com as minhas dozes passas na mão, a ouvir os som das doze badaladas ,a retinir nos meus ouvidos...sem saber o que pedir. Teria que pedir algo que não tenho, ou pedir mais do mesmo?

   O que quero desejar para mim, para quem amo e para todos em geral?
Que peço a todos os profissionais dos Desejos e Sonhos & Lda (Pai Natal, Menino Jesus, Génio da Lâmpada, fadas madrinhas e tutti quanti confundidos), quando eles me aparecerem?

   Desejar, sonhar...conservar essa capacidade e essa possibilidade.
Porque no dia em que nao terei mais desejos, no dia em que não sonhar, serei muito pobre e terei perdido a minha essência.
Enquanto somos ricos dos nossos desejos e sonhos, temos algo de infinitamente precioso para dar.

   E depois...ainda existe a miséria da ignorância, mas isto será motivo para outro textito...




Dai-me asas!

 

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Crime e Castigo...

Olho aterrada para o papel prata, à minha frente, e não acredito no que vejo...acabo de assassinar meia placa de chocolate, à dentada. Podia invocar a necessidade de terminar uma mísera metade de tablete, por medo de que passasse da sua data de validade...Ninguém acreditaria em mim e passaria por mentirosa.

Que verdadeiras razões se escondem  por detrás deste gesto reprovável e horrendo? Passada a fase em que fiquei estarrecida por esta recaída compulsiva...pensei no meu dia, ou melhor na metade que já passou. Nada, nada se passou que explique racionalmente este gesto inconsiderado, nada.

E talvez seja isso, NADA...Aqueles quadrados saborosos, nem derreteram na boca, foram devorados e o mesmo vazio ficou. Não vieram preencher nada e apenas me deixaram um peso na consciência, mais umas gramas no rabo e mais um pouco de colesterol talvez.

Logo, quando vierem as pequenas, vão perguntar pelo chocolate, e o que direi?
Nao posso dizer que o comi, depois de estar constantemente a pregar que se devem comer doces com moderação e perseguir a gula, como se de uma cruzada, um auto da fé se tratasse, sem dó nem  piedade...meu Deus, que fiz eu!

Sou uma menina má, vou direitinho para o inferno...mas, pensando bem...talvez vá de qualquer forma.
Será que nos caldeirões infernais, há chocolate quente? Mnham!!!!! e se se o Diabo valer a pena...e for jeitoso, então estarei no paraíso!!!!



Já se nota alguma coisa? :-)

sábado, 11 de setembro de 2010

Estado de urgência...relativa

Hoje, preciso que me dêm corda aos sapatos
Hoje, preciso que me façam uma massagem cardíaca
Hoje, preciso de socorro
Hoje, preciso de uma garrafa de oxigénio
Hoje, preciso de um electrochoque
Hoje, preciso de colo
Hoje, preciso que me dêm asas para voar
Hoje, preciso de um trampolim
Hoje, preciso de muletas ou quiçá de um par de patins
Hoje preciso de um penso e de ligaduras
Hoje, precisei...preciso, precisava...oh, mas ainda bem, que já é amanhã!...e já não quero nada disso.

Vou vestir uma armadura de samurai, por baixo do meu quimono de gueixa.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Quem não me conhecer, que me compre!

Sentido obrigatório

Sou BOA!! Não acreditam?

Bem, primeiro estou a tentar convencer-me a mim própria, e só depois virá o trabalho de marketing pessoal. Será que me conheço bem o suficiente para colocar em evidência o que tenho de positivo e melhorar o menos bom?
A ver vamos...

http://mktportugal.com/blog/?p=2360

Porque eu quero poder continuar a ser professora.




  Há dias assim, dias assim-assim e dias não. Todos os têm, pois claro…nem digo que não.
Mas eu tenho dias em que a minha vida passa sem mim e esta ausência da minha vida é frustrante.
Não quero esta vida minha, sem mim. O que significa este tempo que passa e eu não estou? Este tempo fora.

  Há dias em que passo os portões da minha escola, que cada vez sinto menos minha, às 8h15….e o tempo passa, corre e acaba. Por vezes acaba tão tarde e volto a passar o mesmo portão em sentido contrário, doze horas depois. O único sinal da minha passagem por là, ida e volta, é o toque que pontua entradas e a saídas. Passei lá o meu dia, doze horas da minha vida, a fazer o quê?

  Pois bem, alguns poucos dirão que estive talvez a trabalhar, talvez…

  Porque  até eu , por vezes duvido…

  Quando comecei este trabalho, eu não o via assim, não me sentia assim e é assim que eu não o quero ver.

  Passo muito pouco do meu tempo com os meus alunos, a ensinar-lhes.
  Passo muito tempo a preencher papelada e a contribuir para alimentar a máquina burocrática. Passo muito tempo a contribuir para a desflorestação e em reuniões.

  Quando dou por mim é porque tenho fome e sono e estou cansada. Só nestes momentos tenho consciência de mim. Estarei sob o efeito de alguma anestesia?

  Quando  me falam em avaliação, até me dá vontade de rir. Nem percebo o que pretendem de mim…Estarei apta a dar convenientemente 3 aulas por ano e preencher outros tantos formulários? Depois de anos a fazê-lo, dou por mim a não saber fazer o que sempre fiz…

  E depois desta avaliação que não poderá ser outra que muito boa…porque terei gasto as pestanas a fazer os planos de aulas, que tanto vão beneficiar os meus alunos e fazê-los crescer, os objectivos que irão enriquecer a comunidade, que nunca voltará a ser a mesma e  a revolucionar a escola?
  Depois, dir-me-hão que nao tive muito bom ou excelente porque não, porque explodi com as percentagens disponíveis e que nâo havia para todos. Mérito, por aqui se desconhece.

  Como será a avaliação que as minhas filhas farão de mim?
Péssima, porque terei abdicado delas e do tempo que lhes devo para servir ninguém, numa absurda burocracia inútil.
Inútil, é como me sinto.
  Nos dias em que elas estiverem doentes…não poderei ficar com elas. Até as vou mandar para a escola, ainda débeis, se for possível. Irão contaminar os filhos dos outros, e preferência, os filhos dos que podem ficar com eles.
  Uma, tem a infeliz ideia de ter mais do que 11 anos e a outra tem o mau gosto de frequentar um pediatra que não trabalha para o SN de saúde e não tem contrato com a excelente ADSE.…
  Um dia despedem-me com justa causa…
Carinhos à pressa com hora marcada. Sim porque tenho que corrigir testes ou fazê-los. Idas ao cinema…nem pensar, porque me sinto culpada por não estar a trabalhar, ficarei a pensar nos filmes que poderia ter visto.
E se os meus pais adoecem…paciência! A culpa é deles…quem lhes mandou incentivar alguém a ser professora?!

  Professor…tem família?...tem amigos?...lazeres?...pode ter, só não é possível…ter tudo ao mesmo tempo…. um bom trabalho (bem pago...) e uma vida pessoal equilibrada.
O que vale, é que tenho um montão de férias…ah, pois é!
Mas isto é aqui para nós, que ninguém nos ouça.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

SOUdades ?


Hoje, saí de casa como habitualmente, para caminhar. Invoquei alguém que não veio, e pelo caminho, tropecei em mim.


Bateu-me uma saudade bem grande de mim.

Saudade do dia em que luzi e me aconteci ,

Saudade de quando eu era só e apenas EU,

Saudades de quando sonhava quem eu seria,

Saudades de quando reflectia sobre o que seria,

Saudades da época em que eu julgava saber quem eu era.

Um dia marco um encontro comigo…e tomo um café.