quinta-feira, 22 de março de 2012

E se...

Uma fome de imprevisto me assola os dias.
Penso e repenso o quotidiano e a balança real faz-me pesar para o positivo. Sinto-me uma criança que não valoriza o que tem, uma mal agradecida do destino...mas todos os dias penso que hoje será igual ao amanhã e amanhã igual ao dia que virá depois.
Esta fome insaciável abocanha as minhas manhãs na certeza de que não advirá nada de exaltante, entorpece os meus serões que se alinham e perfilam todos por igual. Uma vida-corredor reta ....
Abominável rotina, apenas amada quando algo vem desarrumá-la e tempestar. Tenho tanta coisa boa, o que me falta?
Tenho fome de imprevisto, é o que é!

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Chegou a casa, estafada por um calor inesperado. Pensou no que poderia comer que a refrescasse, e imediatamente veio-lhe à mente um sabor fresco e intenso.  Abriu a porta do frigorífico e do congelador...um iogurte, framboesas...um pouco de açúcar. Por milagre, transformou-setudo num sorvete, que a transportou para a sua meninice. Ainda não voltou.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Um dia acordou. Abriu os olhos, no nevoeiro matinal embaciado do quarto...olhou para o lado à procura da figura famíliar, do corpo desenhado debaixo do lençol. As lágrimas deramaram-se no rosto, grossas e sentidas, tinha dormido com um estranho.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Dia de duas noites

Neste momento, o que quero para mim, não é felicidade.
Quero paz, PAZ.
Quero dormir de toda a minha alma.

  Tenho um friozinho na garganta, mas quero uma peúga no coração.
Nunca me agasalhei tanto, nesta época do ano...será que o Inverno chegou mais cedo? Quero sentir calor, e não aquele arrepio, que todos os dia me tem assaltado as manhãs.
Vou enfrentar o mundo e as minhas inseguranças, sim...apenas muda a perspectiva.

  O dia de hoje começou, como todos os dia, pela parte da manhã. Até aqui, tudo igual...uma manhã com acordar difícil, sem razão alguma...tenho cumprido tão exageradamente o horário de sono, que até ando preocupada. Vesti-me com uma sweat cor-de-rosa para contrariar a tez cinza e sorri para o espelho.
  A alimentação, essa continua caótica, de estômago apertado e leve enjoo, só em pensar comer. Não passa. Por isso, o pequeno almoço consistiu num estranho ritual, de pegar a primeira coisa que esteja à mão...três figos secos e um copo de água. Nunca fui de comer cedo. No intervalo das dez, já a coisa muda de figura, e alimentei-me como manda a lei, de café, sumo de laranja, pão fresquinho com manteiga e mel...huuuuum! O almoço, foi terno...com o meu amor "pequeno". Uma pizza suculenta e um copo de sangria. Eu, que ando meia grogue e bêbeda na vida...senti aquele líquido forte e quente, percorrer cada veia que sinua o meu corpo.
  Voltas e voltas e mais voltinhas da vida...daquelas que têm que ser dadas, que ocupam e pontuam os nossos dias. Cheguei a casa e antecipei a noite, dormi, dormi...até dormi a ginástica e o jantar.
Se sonhei? Claro que não! Só se sonha quando alguém nos deseja bons sonhos...e àquela hora, ninguém se deve ter lembrado que eu estaria a dormir. Foi sono de dormir mesmo, sono funcional de quem quer e precisa descansar urgentemente. A porta abriu-se por três vezes. Senti as cocegas do cabelo, no meu rosto e um leve beijo na face, ouvi um riso leve de troça, pela careta que fizera...ouvi um "Mamã? Estás aqui?", admirado e ouvi um "Estás a dormir?", ao qual hesitei responder sim ou não...porque estava.
  Acordei há pouco a pensar no trabalho para amanhã...toquei nos livros que me deram tanto prazer e de que falarei amanhã, na experiência de leitora. Os meus livros, tenho-os dentro de mim, mas por vezes preciso dizer-lhes que gosto deles e que o seu toque é insubstituível ... amanhã, levarei dois a passear. Não levo Mia pela mão, que esse é por demais evidente. Levo um livro da minha adolescência, que sempre amei desde então, e levo Luís Sepúlveda, no livro "O Velho que Lia Romances de Amor". Depois de apontar algumas ideias no papel, irei dormir novamente.
  Amanhã, será feito de quê? De dia, de noite...de horas e de tempo, de mim, de outros, e de todas as coisas e será.

domingo, 7 de novembro de 2010

Felicidade realista

Eu estava dormindo e me acordaram E me encontrei, assim, num mundo estranho e louco... E quando eu começava a compreendê-lo Um pouco, Já eram horas de dormir de novo

A princípio bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos. Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magrérimos, sarados, irresistíveis. Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa cinco estrelas. E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar a luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito. É o que dá ver tanta televisão. Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista. Ter um parceiro constante pode ou não, ser sinônimo de felicidade. Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com um parceiro, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio. Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade. Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar É importante pensar-se ao extremo, buscar lá d entro o que nos mobiliza, instiga e conduz, mas sem exigir-se desumanamente. A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se. Invente seu próprio jogo. Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade. Ela transmite paz e não sentimentos fortes, que nos atormenta e provoca inquietude no nosso coração. Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade .

Mario Quintana

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Relato de pesadelo (Domingo, 24 de Outubro)

Três da madrugada, um pesadelo. Por onde andei, que fiz eu?
Era dia de compras e voltas, daquelas que ninguém gosta, afazeres de pouca monta. que se guardam para se despachar num só dia.
Primeiro, dirigi-me à loja do cidadão, que é lugar de onde fujo, normalmente. Necessitava repor a legalidade da minha situação. Dirigi-me ao balcão mais próximo, por não saber qual seria o adequado.
- Venho devolver o cartão de uma actividade que não pretendo mais exercer, disse eu.
 A senhora da repartição olhou para mim, sem me ver. Insisti e repeti, estendendo -lhe o cartão de fada, expliquei por breves palavras, o que me levava a gesto tão drástico.
 - Não quero ser mais serviçal do mundo paralelo, tenho pretensões mais altas e legítimas, quero tratar de o meu cartão de cidadão…oh, pode ser mesmo um normalito!
Despachei a papelada, preenchi formulários e segui caminho. Quando passei a soleira da porta, a senhora chamou -me:
- Eh, esqueceu-se aqui do seu par de asas!
- Não me esqueci, deixo-as para quem precisar, daqui em diante vou caminhar, como toda a gente.

Loja de penhores, foi sítio onde nunca entrei, mas para lá os meus pés se encaminharam.Entrei e imergi num intenso cheiro a decrepitude e tristeza. Nem vou descrever a figura, que nela exercia funções, é a que toda a gente imagina.
 - Que deseja?
-  Venho buscar o meu nariz que por aqui o deixei, penso eu... sou tão esquecida e distraída. Quero de novo ser dona do meu nariz.
Entregou-me um embrulho, envolto em papel pardo, peguei sem olhar ao conteúdo. Mais tarde lembrei que queria um arrebitado, embrulhado em papel de seda. Tarde demais...teria sido ocasião de trocar…
Mercearia de bairro mais tarde, puxei da minha lista e percebi, horrorizada, que tinha tanta coisa em falta. Compraria tudo avulso, na medida do que preciso.
- D. Arminda, venho comprar algumas raivas, para descarregar mais tarde, impaciência Q.B e 100g de impulsividade .
Shopping de roupa, não há mulher que resista. Entrei na loja de marca, de aspecto sofisticado, e pedi:
- Uma capa de cinismo, por favor.
Cinismo, é preciso e era coisa que não parava há muito no meu dressing. O cinismo é o humor possível de quem está triste e desiludido. Funciona como capa da chuva para as almas magoadas. Vesti, estava um pouco apertada, mas servia.
Não andarei mais sobre nuvens
Na hora de ir para casa, hesitei…estava carregada de embrulhos e a pé não dava jeito. Que foi feito do meu carro? Andou a brigar com um malevolente poste de estacionamento. Autocarro, vou de autocarro que é comum para gente como eu, que vai só no meio de tanta gente, que se acotovela e não se vê. O meu orgulho dizia-me para ir de Lamborghini…mas não posso. Seria o carro ideal para transportar a minha auto estima, em baixa.
Cheguei a casa e fiz coisas de gente comum a pensar que não o era. Abri o portão que teima em não ser automático, mesmo nos dias de chuva.

domingo, 24 de outubro de 2010

Chovem sapatos

Hoje, ganhei mais um par de sapatinhos de princesa, lindos de morrer, forradinhos de cetim, esguios e pequeninos. Isto porque a minha mãe teve um casamento há pouco tempo, e na azafama e prazer das compras, deve ter esquecido que calçava um número acima e que tinha um calo, no dedo grande do pé (por favor, não lhe contem que disse isso aqui!)...não tenho nada a dizer contra isso.
 Assim, conto hoje, com  três pares de verdadeiros sapatos...
Mas, claro que me falta o par idealizado, aquele de que me falou a minha amiga C., aquele que teria em comum com a minha amiga M.C, que teima, a milhas de distância, em escolher, numa montra, noutro ponto do país, o mesmo par que eu....uns de verniz, vermelhos. Os red shoes, evocam em mim lembranças e a imagem de uma menina de escola, com sapato vermelho de fivela, de sobretudo preto e gorro vermelho, a caminhar por um dia cinza e gelado. Sapatinhos de Capuchinho.
O que te evocam os sapatos vermelhos?