quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Relato de pesadelo (Domingo, 24 de Outubro)

Três da madrugada, um pesadelo. Por onde andei, que fiz eu?
Era dia de compras e voltas, daquelas que ninguém gosta, afazeres de pouca monta. que se guardam para se despachar num só dia.
Primeiro, dirigi-me à loja do cidadão, que é lugar de onde fujo, normalmente. Necessitava repor a legalidade da minha situação. Dirigi-me ao balcão mais próximo, por não saber qual seria o adequado.
- Venho devolver o cartão de uma actividade que não pretendo mais exercer, disse eu.
 A senhora da repartição olhou para mim, sem me ver. Insisti e repeti, estendendo -lhe o cartão de fada, expliquei por breves palavras, o que me levava a gesto tão drástico.
 - Não quero ser mais serviçal do mundo paralelo, tenho pretensões mais altas e legítimas, quero tratar de o meu cartão de cidadão…oh, pode ser mesmo um normalito!
Despachei a papelada, preenchi formulários e segui caminho. Quando passei a soleira da porta, a senhora chamou -me:
- Eh, esqueceu-se aqui do seu par de asas!
- Não me esqueci, deixo-as para quem precisar, daqui em diante vou caminhar, como toda a gente.

Loja de penhores, foi sítio onde nunca entrei, mas para lá os meus pés se encaminharam.Entrei e imergi num intenso cheiro a decrepitude e tristeza. Nem vou descrever a figura, que nela exercia funções, é a que toda a gente imagina.
 - Que deseja?
-  Venho buscar o meu nariz que por aqui o deixei, penso eu... sou tão esquecida e distraída. Quero de novo ser dona do meu nariz.
Entregou-me um embrulho, envolto em papel pardo, peguei sem olhar ao conteúdo. Mais tarde lembrei que queria um arrebitado, embrulhado em papel de seda. Tarde demais...teria sido ocasião de trocar…
Mercearia de bairro mais tarde, puxei da minha lista e percebi, horrorizada, que tinha tanta coisa em falta. Compraria tudo avulso, na medida do que preciso.
- D. Arminda, venho comprar algumas raivas, para descarregar mais tarde, impaciência Q.B e 100g de impulsividade .
Shopping de roupa, não há mulher que resista. Entrei na loja de marca, de aspecto sofisticado, e pedi:
- Uma capa de cinismo, por favor.
Cinismo, é preciso e era coisa que não parava há muito no meu dressing. O cinismo é o humor possível de quem está triste e desiludido. Funciona como capa da chuva para as almas magoadas. Vesti, estava um pouco apertada, mas servia.
Não andarei mais sobre nuvens
Na hora de ir para casa, hesitei…estava carregada de embrulhos e a pé não dava jeito. Que foi feito do meu carro? Andou a brigar com um malevolente poste de estacionamento. Autocarro, vou de autocarro que é comum para gente como eu, que vai só no meio de tanta gente, que se acotovela e não se vê. O meu orgulho dizia-me para ir de Lamborghini…mas não posso. Seria o carro ideal para transportar a minha auto estima, em baixa.
Cheguei a casa e fiz coisas de gente comum a pensar que não o era. Abri o portão que teima em não ser automático, mesmo nos dias de chuva.

domingo, 24 de outubro de 2010

Chovem sapatos

Hoje, ganhei mais um par de sapatinhos de princesa, lindos de morrer, forradinhos de cetim, esguios e pequeninos. Isto porque a minha mãe teve um casamento há pouco tempo, e na azafama e prazer das compras, deve ter esquecido que calçava um número acima e que tinha um calo, no dedo grande do pé (por favor, não lhe contem que disse isso aqui!)...não tenho nada a dizer contra isso.
 Assim, conto hoje, com  três pares de verdadeiros sapatos...
Mas, claro que me falta o par idealizado, aquele de que me falou a minha amiga C., aquele que teria em comum com a minha amiga M.C, que teima, a milhas de distância, em escolher, numa montra, noutro ponto do país, o mesmo par que eu....uns de verniz, vermelhos. Os red shoes, evocam em mim lembranças e a imagem de uma menina de escola, com sapato vermelho de fivela, de sobretudo preto e gorro vermelho, a caminhar por um dia cinza e gelado. Sapatinhos de Capuchinho.
O que te evocam os sapatos vermelhos?

domingo, 17 de outubro de 2010

Cinderela

Não sei se vá de coche...já se transformou em abóbora.
Vou de salto, quando encontrar o par...a viagem vai demorar!
Demora o tempo que for preciso.

sábado, 16 de outubro de 2010

Dormência


Muitas das mulheres com quem tenho falado,  contactado mentalmente ou virtualmente, trocado olhares ou impressões, têm revelado um cansaço no qual eu me revejo, uma lassitude no olhar. Não conseguem aliviar-se um pouco do peso dos que amam. Deixo desde já bem claro, que não é por não abraçar de alma e coração o papel de mãe, com gratidão e alegria.

Meu Deus, como detesto quando tenho frio...
Pensei esgotar-me nesses papeis vários, esvair-me em responsabilidade e olvidar-me definitivamente de mim, dos meus desejos e quereres. Quem queria saber de mim? Absolutamente ninguém, desde que eu preenchesse o que era requerido socialmente.
Adormeci para mim e fiquei latente...
Nunca mais ser vista como uma mulher que tem desejos de crescer também e de se realizar, chocou-me de tal forma que entrei, possivelmente em coma. Mãe fica onde está, sempre.
Dona de casa alimenta, limpa, tem a roupa da família em dia.
Como detesto os comentários da minha mãe e os conselhos que me dá sobre organização da roupa, como detesto quando ela não para de arrumar para ajudar, em vez de se sentar um pouco. Como detesto que dia após dia me perguntem o que é o jantar. Como detesto que me digam "havíamos de", quando sei perfeitamente que querem dizer "devias".

Quando acordei, calcei sapatos de verniz, com salto, para crescer com brilho. Gosto dos meus sapatos de verniz, de princesa, que a minha pequena me pede para calçar, quando for grande...é bom sinal. Desde esse dia que tenho sempre um par de sapatos de princesa, é que nunca se sabe...
Quando acordei entrei em auto combustão, perdi os quilos do meu interregno vegetativo.
Quando acordei, fiz as malas e fui para Paris.
Decidi que só queria cozinhar por prazer.
Aprendi a dizer não e quase nunca...quase nunca, me sentir culpada por isso.
Aprendi a conjugar o verbo querer e ir, na primeira pessoa do presente do indicativo.

Quando acordei daquele esquecimento de mim...também os outros se tinham esquecido, e não me reconheceram. Viver  na  transparência, não um estar no qual eu me reveja e queira para mim.

Difícil é a reconquista da liberdade,do ser e  do querer... não se faz sem mágoa e sem quebras.

domingo, 10 de outubro de 2010


Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro
      nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um
 ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes
      verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um
      aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E, no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
Não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.

Eugénio de Andrade

A virtude dos defeitos.

Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro. [ Clarice Lispector ]

Um defeito pode ser a nossa trave mestre.

sábado, 9 de outubro de 2010

On est pas obligés

Je ne veux pas une vie
En forme de bac à sable
En forme d’aquarium
Aplatie comme un tapis.
Je ne veux pas de vie à ritournelle, ni à refrain
Je ne veux pas de vie à frein.
Je veux une vie tapie de petits riens.
Je ne veux pas d’une vie polie et urbaine, pleine de civilités.
Je ne veux pas d’une vie réfléchie et murie.
Cette vie ce n’est pas un projet raisonnable.
C’est une vie qui gambade hors des sentiers battus, hors des normes et des règles établies.
Une vie sur un chemin qui ne va nulle part mais qui chemine.
De toute façon, quels que soient les chemins, on ne sait jamais où ils nous minent.
Devant moi, je veux une avenue de mots bleus, doux comme les matières  inexistantes, tissés de fils de soi.
Pavée de mots multicolores.
Une vie comme une bulle de forêt, de bois et de mousse et d’infini.
Soufflée et forte, irisée, qui brille aux rayons du soleil.
Une vie qui n’existe pas mais dont on ne peut nier l’existence.
Une vie intérieure comme un cocon
Où les matins sont azur, tous les jours, et où la pluie n’est pas acide.
Faite de petits gestes dits et de petits mots doux  comme des dessins d’enfants.
Il n’y a que des mots à entretenir et un espace qui n’a pas besoin de maintenance.
Un espace tendre et suspendu au bord de lèvres qui  ne les ont pas prononcés.
Une envie de tous les jours où on n’est pas obligés.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O que eu quiser



 "Se quem semeia ventos colhe tempestades, então eu prefiro semear furacões"
Todos temos palavras que detestamos e outras que amamos.

Resignação
Conformismo
Saudosismo
Mentira

Resiliência
Amor
Entusiasmo
Inovação
Movimento
Liberdade
Imaginação

Fácil dividir, não é? :-)

A cor que me fica bem

Há já algum tempo, alguém me perguntou qual era a minha cor...estive tentada em responder "cor de carne, cor de pessoa", claro que se tratava da minha cor política. Pensei e pensei e dei voltas à minha consciência política e nacional, temi ser entendida como um ser amorfo, politicamente falando. Não sou, mas esta política não me serve, não sou adepta de ideologias vazias e de aposta cega na lateralidade esquerda, direita...eu que, muitas vezes nem sei distinguir uma da outra. Essa visão da política apenas me sugere um barco que é preciso manter à tona, num mar ondulante...em que todos temos que nos deslocar para babordo ou estibordo, conforme as necessidades e o barco afunda-se. "É  momento de quebrar (talvez ir ao fundo), o momento de sonhar espaços novos" e aperfeiçoar a visão periférica.
Um "Projecto de construção social"...eis um conceito que me interpela, eis uma ideia que me anima e me dá vontade de agir pelos outros, de me implicar politicamente, com ânimo e empenho. Encontro-me politicamente, nesta ideia de "heroicidade diária" em que se trabalha pelo bem social e pela comunidade.
Venham então os políticos profissionais com visão ampla e coração grande ... com um projecto nacional.
Este senhor Frei Fernando Ventura, falou-me...
e agora já posso dizer, sem medo de ser mal interpretada, sou cor de carne, cor de gente.

http://dererummundi.blogspot.com/2010/10/analise-de-grande-lucidez-sobre.html

sábado, 2 de outubro de 2010

A enxaqueca não é minha amiga

Chegou pela calada da madrugada, insidiosa e latejante. Surpreendeu-me no meu sono, impedindo-me de actuar prontamente. Senti-a chegar, mas ainda estava emersa num sono nebuloso. Quando acordei com um peso em cima das pálpebras e um intenso apertar das têmporas, já ela estava instalada para ficar. Deixei-me estar, no escuro do quarto, deitada, de olhos fechados, muito quieta.
A realidade não me deixou ali permanecer e todos os simples gestos do dia, me pareceram titanescos e desajeitados, como se me tivesse esquecido de como se executavam.
Os sons ecoaram na minha cabeça como se nela habitassem, atingindo o mais profundo e mais recôndito neurónio sobrevivente. Sinto-me tão oca que duvido agora que me tenha sobrado algum.
Vou tentar dormir...vou apanhar papoilas e elfos, se os conseguir alcançar.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A minha empresa...e você, já sorriu hoje?

Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
Mas não esqueço de que minha vida
É a maior empresa do mundo…
E que posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver
Apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
Se tornar um autor da própria história…
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
Um oásis no recôndito da sua alma…
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um “Não”!!!
É ter segurança para receber uma crítica,
Mesmo que injusta…

Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo…


Sei que não é boa altura para empreender, fundar uma empresa, em tempos de crise...mas se eu não investir em mim, quem o fará? Pois bem sei...NINGUÉM! E eu quero crescer, não quero falir.
Quando as coisas me caem em cima fico assim um pouco atordoada, depois, vem o tempo da acção, de dar a volta por cima e lá vou eu!
Hoje falei com um amigo...(é estranho ser analisado do exterior) ...esse amigo já me disse várias vezes, que por vezes pareço planar sobre o comum dos mortais, com a arrogância da minha genuína alegria. Arrogância é mau, mas percebi o que queria dizer. Há alturas em que não é de todo conveniente expor boa disposição, saúde e vontade de viver...sorrir é pecado em tempos de crise. Perguntei-lhe se achava que deveria ser mais contida na minha expressão de alegria, no sorriso do dia a dia, traduzida (olhem que não é todos os dias). Disse que não, que o punha bem disposto, porque era contagiante...e fiquei feliz...a minha empresa, está no bom caminho! Procuro sócios e partilho dividendos... Contenção?, não faz parte do pacote!!!!!